Museu da História do Estado de São Paulo

Projeto Institucional     |     Em execução

São Paulo – SP
2009
3.780 m²


Autor

Raul Pereira

Coordenação

Rulian Nociti

Equipe

Aline Santos
Ana Paula Frederico


Arquitetura

Pedro Mendes da Rocha Arquitetos Associados / Arte 3

Colaboradores

Ligia Teresa Paludetto, Tuca Petlik

Maquete eletrônica

Pedro Mendes da Rocha Arquitetos Associados / Arte 3

Ilustrações

RPAA

MEMORIAL DE PAISAGISMO
MUSEU DA HISTÓRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Raul I. Pereira

A idéia que norteou o projeto paisagístico, partiu da história da Casa das Retortas e de sua configuração geográfica no contexto urbano. Por um lado, antigo pátio industrial de arquitetura inglesa, onde predomina um grande e contínuo plano pavimentado, possibilitando que logo que se transponham seus muros tenha-se uma ampla leitura do conjunto de seus edifícios e áreas externas, ficando os labirintos confinados aos seus misteriosos subterrâneos.

Por outro lado, situa-se numa várzea do Rio Tamanduateí, às margens do qual nasceu São Paulo. Sua localização, nesse espaço de transição entre um ambiente mais naturalizado e outro, de uma arquitetura densa e fabril que caracteriza o bairro do Brás, traz uma tensão interessante de dois espaços onde os planos, outrora alagados da várzea, se estendem aos planos pavimentados do pátio do terreno do Museu.

Essa planície portanto, sugere uma diretriz ao projeto de paisagismo: que suas visuais sejam desimpedidas e que o piso seco tenha predominância. Respeitando esse princípio, os estratos vegetais principais são as árvores de médio e grande portes e herbáceas de até 70 cm de altura, possibilitando, assim, a liberação das visuais para a contemplação e leitura dos volumes arquitetônicos. Os arbustos maiores, ficam restritos às áreas junto aos muros dos fundos do edifício do SPDOC, Administração e Auditório.

Em síntese, a estrutura do espaço externo se resume a um grande piso, arborizado ao seu redor, com poucos canteiros pontuais e “alagados” por duas faixas d’água num tanque de concreto aparente, paralelas ao Rio Tamanduateí. Um dos espelhos d’água reflete toda a extensão das arcadas que agora podem ser vistas em toda sua plenitude e beleza, uma vez que as árvores e o espelho d’água existentes, que unia os arcos à Casa das Retortas, foram retirados, permitindo que se caminhe por essa via, entre os dois volumes arquitetônicos, que nos remetem às arcadas romanas dos aquedutos.

A outra faixa d’água atravessa a passarela, tendo de um lado, um espelho d’água suavemente circulante, de borda infinita, ao longo do qual corre um banco que limita e dá vista para uma Praça de Entrada do Edifício da Administração. Cortando longitudinalmente esse lago, há um “buraco” na água de forma ondulada, definido por duas finas placas metálicas, iluminadas por dentro, de tal forma que durante o dia funciona como um negro sumidouro e à noite, iluminada por dentro, sugere uma relação misteriosa e meio gasosa, dos porões de processamento do gás, através da queima do carvão, existentes no período de atividade. Essa idéia dos subterrâneos é reforçada pelos fossos laterais da Casa das Retortas, que revelam a existência de um subsolo.

Do outro lado da passarela, a água banha o mapa do Estado de São Paulo, na face do Oceano Atlântico. O mapa, no piso, de 18m de comprimento, feito de mosaico cerâmico colorido, por artista plástico, trará referências às cidades paulistanas, ressaltando suas características sociais, econômicas, políticas ou culturais. Ao lado do mapa, junto aos trilhos, geometricamente dispostos, alinhado como lavouras de café, há um bosque de árvores frutíferas, “ornamentais” e de nossos cultivares, que reportam à tradição e memória vegetal de diferentes regiões do Estado, como propõe o arquiteto Pedro Mendes da Rocha em seu memorial:

“Esta praça,a exemplo de uma Praça Seca, medieval, Européia, como as referências portuguesas e espanholas, tem eventualmente, alguma árvores estrategicamente plantadas em canteiros, com desenho rigoroso, de inspiração de plantações agrícolas, e que terão suas espécies, cuidadosamente escolhidas entre aquelas de caráter de jardim caipira, árvores frutíferas, do quintal caipira paulista, que atraem passarinhos, e que ajudam no projeto didático do Museu em relação à Flora do Estado. Serão priorizados os conjuntos, em detrimento à idéia de indivíduos, procurando sempre a idéia de bosques e de configuração deste quintal.”

Quem chega pela Rua do Gasômetro, entre a livraria e o restaurante, é acolhido pelo bosque e pelo mapa, elementos que provocam sensações muito familiares e domésticas, para logo em seguida, contrastando, serem recebidos pelas linhas contemporâneas do Edifício de Acolhimento. Em cada ponta deste edifício, reforçando os pontos de fuga, há uma grande árvore (quem sabe, uma figueira, em referência às que existiam originalmente e que deu nome à rua).

Uma decisão difícil, porém necessária, foi a da retirada das árvores, como fidelidade histórica estruturante. Muitas do entorno do perímetro serão mantidas, mas grande parte das que estão situadas mais no interior, serão transplantadas para outras áreas públicas a serem definidas pelos órgãos ambientais. Isso porque uma característica marcante do projeto paisagístico, que se trata de edificações e pátios industriais, é a valorização desses vazios, indissociáveis de sua história. Não é de sua “natureza” estar no meio de um bosque ou de um jardim denso e fechado. A arquitetura, de diferentes momentos da história, aqui se impõe com toda sua força e beleza e o desafio, portanto, está em conciliar essa relativa “aridez” com um espaço global aconchegante e esteticamente agradável.

As quatro praças de estar, estarão situadas ao longo da Rua Maria Domitila: (a mais importante é a da esquina da Rua da Figueira, que acolhe quem chega do Metrô), cujo percurso, dominado pelo sistema viário, muito árido e confuso para o pedestre, quase se configura como um não-lugar, onde não se consegue, de longe, avistar o Museu, devido à existência de um grande edifício. Sentado nessa praça, pode-se ter um ângulo de visão privilegiado, tanto das arcadas como dos três acessos da Rua Maria Domitila. O acesso entre a rampa do estacionamento subterrâneo e a entrada dos ônibus, em nível, é sinalizada por uma grande escultura de aço corten, que em contraponto com o espelho d’água, acolhe os visitantes.

A maioria das espécies utilizadas no projeto, é nativa dos diferentes ecossistemas da Mata Atlântica paulista e serão plantadas já com grande porte e em áreas de intensa circulação, terão uma grelha de ferro em seu canteiro. Os ligustros (Ligustrum lucidum), árvores exóticas do passeio da Rua do Gasômetro, serão substituídas por sibipirunas (Caesalpinia peltophoroides), para seguirem o padrão de algumas já adultas existentes, próximas à entrada da livraria. As árvores da Rua da Figueira, serão substituídas por paus-ferro (Caesalpinia férrea). A opção por essas duas espécies está no fato de serem de portes maiores e com isso permitirem uma visibilidade ao conjunto do Museu e dos muros, hoje prejudicada pelas copas mutiladas de tamanhos irregulares e baixos dos ligustros existentes e reforçando essa diretriz, propõe-se que toda a fiação aérea seja enterrada. A retirada da poluição visual que os postes ocasiona, somado a uma sequência de troncos homogêneos, formando uma colunata em perspectiva, conduz a vista também para uma edificação importante: o Palácio da Indústrias, hoje Museu Catavento, que fará um contraponto com o MHESP.

Os pisos serão tratados de diferentes maneiras, todos possibilitando a acessibilidade universal:

Em toda a área externa será colocado o conjunto de mobiliário urbano: lixeiras, bebedouros, telefones públicos, bancos e bicicletário.