Parque Central

Espaço Público     |     Finalizado

Santo André – SP
1992
340.000 m²


Autores

Raul Pereira e Martha Gavião


Colaboração

Margarida Sakata

Realização

Prefeitura de Santo André

Parque Central: A paisagem recuperada

Uma enorme área livre, em estado de abandono e deterioração, foi reincorporada à cidade, numa feliz intervenção promovida pela Prefeitura Municipal de Santo André. Nela, implantou-se um parque, onde a recuperação ambiental e lazer combinaram-se para reafirmar o direito dos munícipes à apropriação dos espaços públicos da cidade. Este é o resumo da história de uma gleba de quase 400.000m², incrustada entre a Vila Assunção e o bairro Paraíso, numa região fortemente adensada. O terreno pertencera anteriormente à São Paulo Railway, hoje Rede Ferroviária Federal, que utilizava a água das nascentes da região para os antigos trens a vapor que cortavam o município. Nos anos 50, achavam-se instalados na área vários agricultores, a maioria japoneses ou seus descendentes, que cuidavam de extensas plantações de verduras em lotes alugados. Em 1967, a Prefeitura declarou de utilidade pública, para fins administrativos e sociais, uma extensão de 369.050m² do local. Três anos depois, mais uma área, esta com 28.538m², foi declarada de utilidade pública. Em 1978, o governo estadual promovia a construção do Hospital Regional de Clínicas do local. A obra permanece inacabada, funcionando hoje apenas o ambulatório. Além dos agricultores e do ambulatório, ocupava também a área uma favela, que se estendia sob a rede de alta tensão da Eletropaulo.

Heranças

Quando a nova administração assumiu a Prefeitura, encontrou obras interrompidas, no setor oeste da área. Tratava-se da primeira etapa da implantação de um projeto desenvolvido pela administração anterior. As obras tinham sido sustadas porque o trabalho de drenagem, com custos não previstos, consumiram toda a disponibilidade orçamentária. Em abril de 1990, a Prefeitura tentou negociar com a empreiteira a conclusão de pelo menos parte da obra. O restante dela seria realizado por administração direta. Após a retomada das obras, seguida de nova paralisação em 1992, a Prefeitura acabou assumindo tudo: tanto a continuidade das obras do setor oeste, quanto a implantação de um novo projeto no setor leste.

Compatibilizar: uma mágica

Compatibilizar a retomada das obras iniciadas pela empreiteira, com as obras em custo por administração direta foi um desafio, ao que somaram-se a resolução de várias interferências. Esta situação exigiu da coordenação de projetos integrar outros setores da PMSA na execução da obra, como as Secretarias dos Transportes, da Habitação, o SEMASA, o Departamento de Manutenção de Equipamentos e Urbanos, a Gerência de Drenagem e o DPJ, além de solucionar pendências com a Eletropaulo e SABESP.

Recuperação ambiental

Além do resgate de uma grande área urbana para o lazer, as obras do Parque Central desempenharam uma importante função de recuperação ambiental. O córrego que era antes canalizado, com esgoto, foi saneado na cabeceira e virou represa de água limpa. Com a recomposição da mata ciliar e o reflorestamento da área, nascentes extintas afloraram, e a água adquiriu uma qualidade melhor. Foram plantadas na área verde 8.000 mudas de árvores, arbustos e palmeiras nativas da região, e 190.000m² de grama.

O parque possui uma área total de 390.322m², espaço privilegiado tanto para o lazer contemplativo quanto para a prática dos mais variados esportes. Com convite ao descanso e à contemplação, nada menos que 9.000m² de lagos, com plantas ornamentais além de 3.000m de caminhos. Como opções esportivas, seis quadras poliesportivas, um campo de futebol, uma pista de bicicross, um playground com 32 brinquedos e uma pista de Cooper com 1.200m.

Água, topografia e árvores

Ao contrário das águas de Moisés, é a terra que se rompe. E de suas entranhas, o riachinho, brutalmente há anos canalizado, enterrado e engessado, vem à tona, agora livre do esgoto, cristalino. E ressurge, inundando o vale e retomando a paisagem que se lhe foi reservada. O riacho virou mar.

O Parque central é uma paisagem natural recriada. A tal ponto, que quase se pode dizer que sempre esteve lá, sem a mão do homem. É um enfoque diferente de outras praças, como a Atlântica e a Saturno, por exemplo, onde os elementos construtivos, antrópicos e mais urbanos são mais marcantes.

Ao redor da represa, a mata ciliar foi recriada, com espécies predominantemente nativas. A área leste do Parque é fundamentalmente água, topografia e gramada e árvores. É isso, em síntese. Os equipamentos surgem pontuando eventualmente a paisagem. A poesia é feita com poucas letras mas com muita abundancia. É tudo muito. Muitas árvores, muita água, muito horizonte.

Não sobra espaço para enfeites. A natureza pediu assim.

Ao projeto, restava simplesmente cortar a terra, devolver a água, plantar as pioneiras e esperar.

Não precisou muito.

Os paturis, as garças as andorinhas voltaram. As crianças também. Nada mais justo ocupar correndo o que lhes foi roubando silenciosamente. E uma administração sensível e delicada lhes restituiu.